sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quem sabe das minhas janelas?

Falar de janelas, de como o tempo passa. Sobre o calor agradável e o frio cômodo. A tinta usada espalhando-se entre papéis e vento, este carrega também pensamentos e não deixa-os retornar. Assim como a água que faz idéias fluírem, desembocando-as em ralos e bueiros, diluindo-as, consumindo-as, afogando-as.
Num copo trazer medidas iguais de tédio, compreensão e alegria. Talvez um cigarro, uma injeção e um comprimido fossem solução para problemas, entretanto, quantos mais trazem?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Dialógos e lacunas (talvez)

Um telefone toca algumas vezes antes de um homem atendê-lo.

-Alô?
-Oi, sou eu, fala uma voz feminina e conhecida.
-Hm. Diga.
-Já sabe que vou fazer uma macarronada?
-Ouvi algo do tipo.
-Pois é alguns amigos pediram e vou fazer.
-Quando será?
-Ah. Ainda não marquei o dia exato, tô meio sem grana. São as trevas, ela ri.
-Sei.
-Por falar em trevas de onde estou posso vê-la, bem hipnotizante se quer saber.
-Como assim?, ri nervosamente.
-Entenda de todas as maneiras possíveis e nenhuma estará errada. Mas falo da minha janela, não consigo enxergar nada através dela, uma escuridão total.
-Ah. Certo, ele não havia pensado em nada.
-É um marco se quer saber, afinal na maior parte das vezes o que digo tem um significado bem específico. Mesmo que dê margem a inúmeras interpretações.
-Sempre e sempre, amém.

Breve silêncio. Ela pergunta:
-Como está a sua mãe?
-Bem de forma geral, tem gastado mais dinheiro com rémedios agora que descobriu ter reumatismo.
-Hm. Espero que ela melhore, a minha 'tá viciada no joguinho do celular. Consigo ouvir o barulho que vem do quarto ao lado... Meu irmão teve uma crise histérica hoje.
-Como foi isso?, interroga instantaneamente.
-Ele tinha comprado... Eu sei que você não quer ouvir tudo. Ele apenas enlouqueceu. Minha mãe conseguiu acalmá-lo prometendo pizza.
-Ele não vai crescer nunca...
-Pois é... Você já provou da pizza de cheddar que vende perto da prefeitura?, questiona com certa animação.
-É meu sabor favorito de lá, diz entediado.
-Muito bom, não é? Mas só consegui comer uma fatia.
-Aguento umas três ou quatro, não como muito.
-Eu não consegui comer mais porque já tinha comido alguns biscoitos, balas e tomado refrigerante.
-Entendo. Seu regime desmoronou mesmo.
-É. Se chama depressão mais casa da mãe. Sempre me fodo nesse negócio, resmunga.
-É... Também não estou numa fase muito boa, fala indiferente.
-Mas falo a verdade. Quando estava depressiva no apartamento não queria sair para comprar comida então ficava uns dois dias comendo do pouco que tinha na geladeira. Na casa da minha madrasta era ainda melhor porque eu nem saia do quarto, mas aqui minha mãe faz questão de encher a porra da geladeira. No seu caso não tem o que se preocupar, vai passar logo. Sua intensidade permite você a gozar das coisas mais facilmente.
-De fato. Quanto a isso eu nem mesmo posso discordar.
-Bom você concordar comigo de vez em quando.
-É.

Silêncio. Ela interrompe brusca:
-Porra! O pessoal fica me cobrando macarronada. Não quero fazer não. Nem queria sair de casa esses dias, pra falar a verdade, termina num murmúrio.
-Você não precisa sair de casa pra fazer macarronada, é só uma dica. Se quiser podíamos marcar um dia que sua familia não estivesse, pra nós dois.
-Nem vai ter mais esse dia... Aconteceu quinta, agora só próximo mês, meu irmão terá uma consulta. E eu teria que ir comprar o material de todo jeito, fala de forma vaga.
-Cacete. Você tá mal mesmo, ele diz sério.
-Já tinha dito. Só não estou pior porque naquele dia falei minhas, como vocês chamaram?, "merdas". Queria beber de novo, mas sei que já não seria esse tipo de libertação que aconteceria, e também percebi que o meu público tem que ser outro. Embora eu não saiba exatamente qual deveria ser, ela ri nervosamente.
-Enfim... Acho que você deveria tomar algum calmante antidepressivo. Tem uns naturais que são legais.
-Não gosto de remédios, você sabe.
-Eu tô tomando um que é natural e sem contra-indicações. É bom ele.
-Essas coisas viciam, por mais naturais que sejam. Eu já não vivo sem açúcar, quero mais depender de nada não.
-Entendo. Tenho que desligar.
-Certo, tchau.

Ele desliga e vai até o cômodo onde um homem aguarda, visivelmente aborrecido.
-Quem era no telefone?
-Uma amiga.
-Amiga?
-Aquela que te apresentei, do macarrão.
-Sei... O que queria?
-Avisar que em breve terá uma reunião de amigos na casa dela.
-Esse tempo todo só pra isso? Quando vai ser?
-Ela não disse, e também falou umas bobagens sobre estar mal, nada sério. Esqueça isso...

Ela encara o telefone e pouco depois leva o olhar ao pulso ensanguentado, talvez devesse ter comentado sobre isso. De toda forma seria apenas mais um problema, ele devia estar ocupado, afinal desligou com tanta pressa... Talvez devesse ligar novamente e dizer que havia bebido um pouco e que mesmo não gostando de remédios tomou uma cartela de um calmante comprado numa farmácia ilegal. Não importa agora. Sente os olhos pesados, talvez se acordar marque um dia para a macarronada.

-Apenas a macarronada é biográfica. ^^
Motivos e inspirações? Achei que seria irônica essa situação.

sábado, 22 de agosto de 2009

re-sumo

Eu: Particula egoísta.
Umbigo: Mundo próprio.
Ar: Ambiente semi-invisível.
Atmosfera: Ambiente onírico.
Água: Lugar silencioso.
Mar: Palácio discreto.
Vento: Respiração da Terra.
Sentimentos: Química.
Caráter: Ilusão social.
Quem: Outro.
Inconsciente: Desculpa.

nada e tudo são palavras muito fortes;
dizer que o tempo apaga é quase hipocrisia.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

imbecilidades e frustração

O que devo pensar de um mundo aparentemente perfeito que abriga animais organizados em sociedades que o destroem? Algumas dessas tentam limitar meus pensamentos. Já não basta a falta de conhecimento vinda do útero? Devo apenas fingir que as coisas acontecem porque acontecem e sorrir alienada?


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

hospício - II

A primeira coisa que vem à minha mente é branco, total e cegante branco. Depois formam-se três linhas e um retângulo iluminado.

Não lembro qual é exatamente meu nome, quanto tempo estou aqui ou onde fica. Tenho a opinião de que
se não lembro não é importante.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

dance



Sorriso. Transe e êxtase. O corpo balançava em ritmo frenético. As luzes compunham o ambiente de forma psicodélica. A música preenchia os pensamentos, extinguindo-os... Todos os movimentos eram involuntários.
Houve somente a decisão de ir ao lugar, o resto seguia como efeito colateral. Pessoas esbarravam. O mundo rodopiava junto consigo. Ar quente e escasso. Garganta seca; a voz rouca grita num ápice de excitação, sem motivos exatos. Talvez tudo fosse um delírio, mas não importava.

domingo, 16 de agosto de 2009

depois

Ele diz que jamais pensou sobre ela montando quebra-cabeças e propôs que comprassem uma caixa e montassem juntos. Ela perguntou onde e quando, ouviu como resposta amanhã e numa praça qualquer.
A caixa comprada tinha vinte peças, seria apenas uma rápida diversão. Ela impaciente encaixou algumas antes do encontro. Ele prevendo trouxe outro quebra-cabeça, sorriu com a surpresa dela.
Ela sorriu, depois, com a concentração dele.

sábado, 15 de agosto de 2009

dezesseis peças de encaixar

Não sei o que o cantor fala em sua letra, pouco importa. O som que ouço é alguém triste cantando uma música animada. Gosto desse timbre quase forçado de despreocupação.
Queria receber uma carta, ninguém se dá ao trabalho. Se ela tivesse palavras mórbidas e cheiro de mofo seria ainda melhor.
Ver as luzes da cidade me agrada; resolvi esperar o sol nascer e vê-las apagar. Um momento digno de poesia.
Tenho as pernas cruzadas, o caderno em meu colo, a mão direita fora da janela segurando um copo, as costas apoiadas na parede, o cabelo solto, olhos parados em algum ponto não visível; pose bem displicente, se me perguntarem, mas não irão.
A chuva vem e começa a encher o copo, continuo com a mão do lado de fora.
Uma noite pode ser noite sem lua ou estrelas, um dia não pode ser dia sem o sol.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sono

Sinto o corpo anestesiado enquanto a mente pulsa dolorida. A vontade é pouca para ser transformada em impulsos elétricos; as pontas dos dedos formigam e a minha consciência escapa...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

hospício - I

Caso comece a caminhar meus passos ecoarão, mesmo tendo os pés descalços, não quero isso.


Há três dias não acendem a luz do corredor, há um que recebi comida e não vejo a enfermeira. Ela deixou a porta do quarto aberta, tenho certeza que não ouvi o clique da fechadura.

sábado, 1 de agosto de 2009

Numa agenda velha...

Segunda, 31 de dezembro de 2007

Me despeço desse ano maravilhoso com muitas expectativas a serem frustradas.

Aprendi que posso amar infinitamente.

E a esperar coisas que não virão.

Segundo o dicionário:

Devaneador, adj. e s. m. Que, ou aquele que devaneia; sonhador.

Devanear, v. tr. dir. Imaginar, fantasiar, sonhar; intr. delirar; dizer ou imaginar coisas sem nexo; desvairar; tr. ind. cuidar, pensar. (De de+lat. vanu.)

Devaneio, s. m. Ato de devanear; sonho; fantasia; delírio, divagação; quimera.
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