Hoje conversei com um desconhecido que fica feliz em conversar com desconhecidos.
Ele falou das limitações e ilimitações do homem. A capacidade em ir a algum lugar, a capacidade de amar. Dos conflitos internos e necessidade em servir como ponto de apoio a algo.
Ele falou dos pardais. Os únicos pássaros que mesmo o homem não querendo sua presença estão lá, e lá ficarão pois é onde querem estar: junto ao homem, seus prédios e sua poluição.
Minha mente ingrata logo lembrou dos pombos e seus bandos espalhados por algumas cidades, nossos queridos ratos de asas. Porém as pessoas cultivam os pombos, dão-lhes comida -mesmo que seja o lixo jogado a esmo -e abrigo -mesmo que sejam as contruções abandonadas. Portanto meu novo amigo de vinte e sete anos estava certíssimo em suas palavras.
A brevidade de nosso encontro deixou marcas que espero lembrar-lhe num próximo. Talvez amanhã, caso seus planos falhem; talvez algum dia, caso nossos caminhos novamente se cruzem; talvez nunca, caso a morte seja rápida; talvez em sonhos, caso o espírito tenha sido embebido de suas palavras.
Sei que do seu rosto me lembrarei vagamente, assim como de seu nome exato me foge a exatidão, mas o esforço em não esquecer existe.
A lembrança física será guardada com o maior zelo, principalmente porque as memórias que me vêm do momento não são apenas das lições que ele passou de forma espontânea, mas de toda uma época de felicidade onde meus sorrisos são naturais e a busca de um rumo certo me deixa errar.
II
Há 14 anos